Durante dois anos e meio um grupo de Oficiais do Exército, da Força Pública de São Paulo e alguns civis percorreram o país motivado pelo sonho de transformar a nação. Esses dignos e honrados revolucionários engrossaram as fileiras da chamada “Coluna Prestes” numa das mais extraordinárias marchas armadas do país.
Transcrevemos a seguir um pouco da história na visão
governamentista da Paraíba, segundo um relatório apresentado pelo
Tenente-coronel Elísio Sobreira, Comandante da Polícia, ao Governo do Estado:
“Ser-me-ia
dispensado dizer a V. Ex.* que a tropa do coronel Pedro Silvino (chefe político
local) não conduzia dinheiro nem para comprar um cigarro, se assim me posso
expressar.
Daí a
minha preocupação em acautelar os haveres dos nossos sertanejos. Era que os ‘patriotas’
extorquiam aqueles que lhe não davam por vontade, conforme documento em meu
poder. Eles, os ‘patriotas’, satirizavam as famílias e arrombavam as portas,
como o fizeram no município de Souza, em a casa do coronel Apromano, a quem
deram prejuízos incalculáveis.
Ameaçaram
de morte o Coronel Emídio Sarmento, se este não lhes entregasse o que exigiam.
Estabeleceram o regime das requisições, prática essa que nos deu prejuízos
talvez superiores aos que nos deram os rebeldes, a menos que o coronel Pedro
Silvino ainda os venha a pagar. Foram vítimas desse ciclone patriótico as
cidades de Souza, Pombal e a vila de Piancó, os povoados de São José da Lagoa
Tapada, Curema e Santa Ana de Garrotes. Alguns quilômetros antes deste último,
os prefalados patriotas simularam um tiroteio, motivando a retirada dos
negociantes moradores do povoado, onde eles chegaram somente para expandir o
saque e a desonra, atentada pelo estupro de uma mocinha. Não foram menos
infelizes Misericórdia, Princesa e Patos”.
A notícia desse levante circulou no jornal “A União”, edição de 27 de fevereiro de
1926. O telégrafo era o meio de comunicação viável da época, e funcionava dia e
noite. Dele valia-se o Coronel Elísio Sobreira para informar a situação ao
Chefe do Estado, conforme vemos adiante:
“São João do Rio
do Peixe (5/2) – Capitão Viegas comunica de Belém que rebeldes se acham
acampados duas léguas daquele povoado. O Dr. Sobreira oferece 150 homens
armados conforme aviso em poder auxiliar João Coelho estrada ferro aqui.
Saudações. Elísio Sobreira”.
Os “rebeldes”
chegaram à Paraíba em 1926. O Governador João Suassuna empreendeu esforços na
tentativa de conter a luta armada. Em mensagem à Assembléia Legislativa
(10/10/26), externava o governante a sua preocupação, enaltecendo, entretanto a
imagem do militar esperancense:
“Dessas medidas
pertencem algumas à minha iniciativa, sendo outras lembradas pelo
Tenente-coronel Elysio Sobreira, a cujas mãos firmes e claro conhecimento da
vida da corporação entreguei, em boa hora, o comando da mesma” (Mensagem à
Assembléia Legislativa: 1926, p. 16).
O Elísio Sobreira foi peça fundamental nesses embates.
Esta é a tese defendida por Inácio Gonçalves de Souza, em sua obra: “Coronel Elísio Sobreira: do heroísmo ao
patronato” lançado em 2010.
Para conhecer mais um pouco sobre os fatos aqui
descritos leia-se a biografia que apresentamos neste artigo.
Rau Ferreira
Referência:
- AMADO, Jorge. Cavaleiro de esperança. Volume 11 de
Works. 3ª Ed. Livraria Martins Editora: 1945, p. 142/143;
- LIMA, Lourenço Moreira. A Coluna Prestes: marchas e combates. Volume 8 de Biblioteca
Alfa-Omega de ciências sociais: Coleção Política. 3ª Ed, reimpressão. Alfa-Omega:
1979, p. 245/246;
- LUSARDO, João Batista. CARNEIRO, Glauco. Discursos parlamentares. Volume 22 de
Perfis parlamentares. Editora Câmara dos Deputados; 1983, p. 199/200;
- CARNEIRO, Glauco. Lusardo, o último caudilho. Volume 1 da Coleção Brasil Século 20.
2ª Ed. Nova Fronteira: 1977, p. 341/342;
- MEIRELLES, Domingos. A noite das grandes fogueiras. Uma
história da Coluna Prestes. Ed. Record: 1996, p. 475 e 733;
- SOUZA, Inácio Gonçalves de. Coronel Elísio Sobreira:
do heroísmo ao patronato. Idealgraf: 2010;
- Jornal "A União", órgão oficial do Governo do Estado.
Edição de 27/02/1926.
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