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Furna do Caboclo, por Jóffily

A furna ou pedra do caboclo bravo tem despertado muita curiosidade desde priscas eras. Distante há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, a formação rochosa guarda resquícios de uma civilização extinta.
Notadamente, a carta de João Lopes Machado (1874) e o questionário da Biblioteca Nacional (1881) constituem os principais documentos que descrevem aquela afloração.
A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E no seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular de aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura. Abaixo do seu nível, há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros.
O lugar também foi objeto de estudos do historiador Irineu Ceciliano Pereira da Costa – Irineu Jóffily – que visitou a sua gruta e colheu material arqueológico de grande importância. Em suas Notas,ele relata com precisão o que encontrou na “Furna do Caboclo Bravo”:

Para visitar uma das mais falladas necrópoles desta raça, abrangendo uma grande furna da serra da Canastra, nos limites da Comarca de Areia com a de Campina Grande, tive que arriscar a vida, por estar ella em posição quase inascessível, a centenas de metros de altura.
Não posso explicar o motivo que teve a tribu que habitou aquelle sertão, para esconder alli os ossos dos seus maiores.
Dentro daquelle imenso e singular ossuário, eu o percorri em todos os sentidos, pisando o pó fino que os séculos tinham accumulado em seu solo granítico, procurando nas paredes, cheias de riscos amarellados, um signal que explicasse o mysterio.
Representaria ella a época colombiana, ou se remontaria até origens da humanidade, ao homem das cavernas?
Esses vestígios, que talvez servissem de senda luminosa a um sábio, em nada satisfizeram a minha curiosidade de simpes tourista.
Apesar da devastidão exercida por visitantes ignorantes ou sem amor à sciência, que me precederão em diversas épocas, lançando os craneos  de serra abaixo, pude ainda encontrar um inteiro e diversos outros ossos, que remeti ao Museu, por ocasião de sua exposição anthropológica.
Mas... o Museu talvez não julgasse o presente digno de apreço. I. Jóffily”.

Para o pesquisador, esses tais aborígenes eram da raça Cariry, de estatura média, cor morena, nariz grosso, rosto redondo e cabeça chata. Dizia ainda assemelhar-se a tipos sertanejos, que em sua época povoavam Parahyba, Rio Grande do Norte e Ceará. Acrescenta que a gruta era um grande ossário, não sabendo explicar o motivo, embora haja lendas e relatos de capitães do mato que, encurralando os indígenas, provocaram a sua morte pré-matura de fome e sede.

Rau Ferreira

Referência:
- BIBLIOTECA NACIONAL, Anais da. Vol. 111, Ano 1991. ISSN 0100-1922. Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1993.

- BRASIL, Jornal. Edição de quinta-feira, 24 de setembro. Rio de Janeiro/RJ: 1891.

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Anselmo Costa

O Pod.: Ir.: Anselmo Costa é filho do ilustre desportista José Ramalho da Costa e d. Maria da Guia Costa. Casado com a Sra. Meire Lúcia de Faria Costa, tem três filhos (Rodolfo, Renê e Rainer) e dois netos gêmeos (Guilherme e Gustavo). Nasceu em Esperança no dia 08 de Fevereiro de 1950 e se dedicou ao ramo de Clínica Odontológica em Brasília/DF, onde reside desde 1976. Na maçonaria, teve sua iniciação junto a ARLS Mutirão Nº 11 – GLMDF - em 13 de dezembro de 1986, sendo elevado em 9 de outubro do ano seguinte e exaltado em 17 de junho de 1988. Sua instalação ocorreu em 19 de maio de 2000, tendo exercido o cargo de V.'. M.'. daquela oficina por duas vezes, no período de 2000/2001 e 2009/2011. É membro do S.C.G.33 do R.E.A.A. DA M.R.F.B,.desde 1993, e da Academia Paraibana de Letras Maçônicas, tendo atuado como Juiz do Conselho de Justiça do GLMDF (2002/2005) Idealizou e fundou o Capítulo Mutirão Social Nº 775 da Ordem DeMolay.Or.'. do Guará-DF e Associação Brasil