Em Esperança-Pb, a Praça Don Adauto
naquela década era palco onde aconteciam as nossas brincadeiras de Rodas de “Pinhão",
"enfincas", as peladas e, diariamente, sempre à
tardinha, onde compartilhávamos aquele bate-bola.
Ali, as crianças daqueles setores
(muitos meninos e meninas) se juntavam à noite para brincar de toca, onça,
lima, melancia, grilo, cantigas de rodas e cirandas ou outras brincadeiras da
época. Mas, lá, também era uma área livre apropriada para receber todos os
circos e outros eventos de palcos ou picadeiros que porventura chegassem à
cidade.
E numa daquelas ocasiões, havia
chegado um circo que ficou famoso, conhecido como Circo de seu
"Alegria"!
Seu "Alegria" era um
senhor já de certa idade,"um preto", alegre e sorridente, excelente
mágico e que também era o dono absoluto daquele circo.
Havia um pé de oitizeiro plantado de
frente a casa onde morava um senhor conhecido como Aristeu Ferreira, filho do
já falecido Inácio Ferreira, eque ficava por trás do circo, árvore essa a quem
nós chamávamos de "pé de figo",plantada a mais ou menos vinte metros
à esquerda da esquina onde hoje há uma loja de peças de moto.
Pois bem, como o "Seu
Alegria" era mágico, a meninada não o largava e até parecia uma ninhada de
pintos ávidos e inconsequentes atrás dele para ver e tentar entender os seus
truques, as suas mágicas e ousadas peripécias.
Aqueles meninos ou "moleques"
estavam sempre por ali na intenção de também acompanhar o palhaço “pernas de
paus” à tardinha pela rua, anunciando as atrações do espetáculo.
* * *
Era a não muito bem vista ação "gritar palhaço”,
coisa de moleques de rua, abominável por algumas famílias, não obstante, era o que
garantia a gratuidade da entrada de muitos meninos ao espetáculo, à noite. Eu
fazia parte desses "moleques"!
Imprimiam um carimbo nos nossos
braços (em alguns, até na testa) com um número e com a logomarca do circo para
podermos ser identificados por ocasião da entrada ao espetáculo, à noite. E
isto não podia ser apagado, nem sabido ou visto pelos nossos pais, alguns de
nós, sob o risco de tomarmos uma grande surra!
E o palhaço de pernas de paus
gigantes, com seu funil megafone: - Hoje tem espetáculo? -tem sim senhor! -Às
8h da noite? -tem sim senhor! –Hoje tem palhaçada? -tem sim senhor! E arrocha
negrada! - Eh! Eh! Eh! Eh!
E repetindo por duas vezes: - Ó raio
sol suspende a lua! - Olha o palhaço no meio da rua!
E arrocha negrada! - Eh! Eh! Eh! Eh!
-Ôi, dona mariquinha meu cachorro
entrou aí? - entrou, entrou, mas não pode mais sair!
E todos, parados, com as mãos nos
quadris e remexendo:- Ôi remexe o xêm, em, em! -xêm, em, em! xêm em, em!
E nessas "cantatas",
percorríamos as principais ruas da cidade, alguns, com certa vergonha e sempre
preocupados em não serem identificados por alguém conhecido ou da família.
Às vezes, o "Seu Alegria"
em suas andanças pelas bodegas daquele setor próximo ao circo encantava a todos
fazendo desaparecer e reaparecer os objetos das pessoas e até transformava um
relógio de pulso de alguém que se habilitasse, num "pé de galinha" já
seco. Era muito engraçado!
Por um descuido, eu não estive no
momento, mas, acredito ter sido numa dessas ocasiões que o "preto
velho"se aproximou daquela árvore, ladeado por alguns curiosos, junto com
a meninada e, balançando um dos seus galhos, num gesto mágico e ilusório, fez
com que aqueles seus acompanhantes vissem cair no chão e apanhassem
"cédulas,"e embolsadas na certeza de que era dinheiro, porém,segundos
depois ao verificarem nos seus bolsos, só havia folhas.
Que tristeza! Quanta decepção!
Novembro/2014
PSdeDória
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.