Após a nossa publicação em uma
rede social sobre o tema surgiram alguns comentários de pessoas amigas, como Pedro
Dias do Nascimento, Joacil Braga Brandão, Martinho Júnior e Pedro Paulo de
Medeiros. Nesta segunda parte está a síntese dessas contribuições. Boa leitura!
Em meados de ‘63, Zezinho Bezerra
expunha a sua ideologia política em palestras realizadas no bar de seu Dedé. Os
estudantes eram convidados, Pedro Dias e Beinha estavam na vanguarda. Este
último classificado, em público como “humanista”, e em segredo um “ardoroso revolucionário”.
Se expor representava um risco de prisão eminente, e não sabemos quais
implicações seria a prisão do filho do presidente da Câmara Municipal.
Tempos depois, Zezinho passou a
ser procurado pelos milicianos. Segundo o historiador João de Deus Melo, o seu
tio Samuel Duarte lhe ajudou a sair do país.
Nesse aspecto, nos informa
Martinho Júnior que: “embora [ele] não
fosse ideologicamente defensor do clero, teria obtido ajuda de um Padre quando
ao escapar estrategicamente dos militares entrou em uma Catedral em João Pessoa
e o tal Padre o conduziu a entrar em uma espécie de subterrâneo”.
Essas estórias vêm sendo
repassadas há gerações, mas o certo é que Zezinho foi “convidado” a sair do
país.
Joacil comenta com riqueza de
detalhes aquele momento político, em que seu pai foi perseguido pela ditadura:
“Com
a decretação do AI-5, a perseguição política foi estimulada. Em Esperança
setores conservadores agiram de forma subterrânea. A "deduragem"
predominou nas sombras.
Papai
passou 45 dias escondido, temendo pela tortura.
O
Foto Braga ficou acéfalo, e o Chico (fotógrafo funcionário de papai) assumiu o
comando, conjuntamente com mamãe.
Foram
dias terríveis e de muitos comentários e delações.
No
intervalo da fuga de papai, mamãe recebeu a solidariedade de pouquíssimas
pessoas, dentre as quais destaco o Sr. Chico Pitiu e a esposa, o Nicinho
Carteiro (irmão do Dr. Nino Pereira) e a esposa, a esposa do Jaime Pedão, o Sr.
Gatto e D. Irene, nossos vizinhos; o Sr. Pedro Taveira, o Sr. Miguel Maribondo,
o Sr. Joca Aciole, e o Zé Aciole e esposa.
Recebi
a solidariedade de amigos identificados com a vanguarda política, do Raimundo
de Patrício, do Antônio Ferreira e do Antônio Fernandes. Foram expressos em
atos, minha gratidão.
Mas
o que mais surpreendeu foi a visita à mamãe, na nossa casa, com a presença de
toda a família, do Sr. Dorgival e a Dona Nevinha. Foi uma cena de muito choro e
lamentações.
Após
o impacto inicial, com o tempo, foi divulgado que não haveria restrições ao
aparecimento e retorno das atividades do papai. Isso posto ele surgiu em
Esperança. Tempos depois ele informou que tinha ficado escondido em Algodão de
Jandaíra.
E
logo após o Sr. Nicinho descobriu o nome do delator de Esperança, que guardo na
memória e não divulgo publicamente em respeito ao passado”.
De fato a influência militar em
Esperança era muito grande e haviam delatores. Comenta-se que quando o
Comandante Paiva surgia em nossa cidade, até os guardas de rua faziam-lhe
continência. As alas conservadora e progressista da cidade estavam atônitas com
os relatos de “entrega” deste ou daquele “comunista”, aliás esta era uma
palavra que se evitava pronunciar nas praças.
A classe estudantil se mostrou
forte e defensora dos direitos do cidadão. Agregados ao Centro Estudantal,
faziam leitura de “livros proibidos” para à época e debatiam um país de
oportunidades que viemos conhecer há pouco tempo, mas que está prestes a
retroceder.
Francisco Cláudio de Lima – Chico
de Pitiu – era um dos dirigentes do América F. Clube e liderança entre os
jovens. Assim nos conta Pedro Paulo de Medeiros:
“Me
recordo que Chico de Pitiu era uma grande liderança junto aos jovens,
principalmente relacionados aos esportes. Recordo que uma manhã, quando ia da
rua do Sertão para a Manoel Rodrigues, um caminhão do exército cheio de
militares parou exatamente no cruzamento das duas ruas. Imediatamente, voltei, e
fui me esconder no sítio, no final da rua do cemitério. Eu era próximo a Chico
de Pitiu e ele estava sendo investigado”.
E para quem pensa que a ditadura
é coisa do passado, desconhece o reflexo deste golpe nos nossos dias. O Brasil
ainda sofre as consequências, cuja ferida custa a sarar. E se a abertura se deu
em ’88 com a Constituição Cidadã, hoje ao arrepio da Lei interpretam-na ao seu
bel prazer para moldar um país de circunstância que atende apenas ao reclamos
da comunidade internacional.
Rau Ferreira
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