Cresci
com as histórias do potencial econômico do município. Na época, falava-se muito
na agricultura, tendo como carro-chefe a batata inglesa. Lembro que no CAOBE se
promovia festivais, em que eram eleitos os maiores produtores da região desta
leguminosa.
Também
por esse tempo se falava numa escola agrícola que viria para Esperança, alvo de
minhas pretensões estudantis. Com efeito, não havia alternativa para o ensino
técnico no município e, sendo um aluno filho de operários, me parecia o caminho
mais curto para a profissionalização.
Pois
bem. Até pouco tempo a “Escola Agrícola de Esperança” me parecia um mito, até
que me deparei nas minhas pesquisas com o Projeto de Lei nº 4.721, de
propositura do Deputado Federal Evaldo Gonçalves, datado de 08 de março de
1990, que se encontra nos Anais da Câmara dos Deputados.
O
projeto em questão previa a criação de uma escola federal agrícola em nosso
Município, cuja denominação iria homenagear o ex-presidente da Câmara Federal,
e filho telúrico de nossa terra, Dr. Samuel Duarte.
Na
justificativa, encetava o Dep. Evaldo Gonçalves, que Esperança era polo
regional capitaneando os municípios de Montadas, Areial, Lagoa de Roça,
Pocinhos, Remígio, Lagoa Seca e Alagoa Nova; sua vocação agrícola, a excelente
infraestrutura e o abastecimento que lhe propiciava o Açude Araçagi, propício
para a implementação da irrigação, e adiante ponderava:
“Nada
mais natural do que se implantar, em Esperança, uma Escola Técnica
Agrícola, que profissionalize uma mão de obra abundante e que está migrando
para outros centros urbanos, em detrimento da atividade agrícola. A profissionalização
de Técnicos Agrícolas, em Esperança, será fator importantíssimo para fixar o
homem do campo no seu ‘habiat’ natural, dando-lhe melhores condições de vida,
de que tanto necessita.
Daí essa iniciativa definitiva que visa
homenagear um dos mais prósperos municípios paraibanos, polo natural de uma
região geo-política da maior importância, quer do ponto de vista político, quer
do ponto de vista econômico”.
No seu discurso, o Deputado Evaldo Gonçalves
fez questão de frizar:
“Espero a acolhida dos meus eminentes pares para
esta propositura de real interesse público, e que visa a instrumentalizar uma
área carente do meu Estado para melhor responder aos desafios do desenvolvimento”.
As águas do Araçagi, não sei até que ponto,
poderiam servir para a almejada irrigação. Porém, não se pode olvidar que
Esperança estava entre os maiores produtores nacionais de batatinha, e que a
mão de obra aqui era vasta, sendo até aquele momento, eminentemente agrícola.
Apenas na virada daquele século, o Município despertou para as representações
comerciais, notadamente na área da construção civil.
O PL 4.721/90 foi encaminhado às
constituições de justiça, finanças e tributações e, após parecer técnico do
Deputado Messias Gois, que se manifestou pela sua inconstitucionalidade e
injuricidade restou esquecido naquela Casa Legislativa.
Na
sua relatoria, considerou o parlamentar que projetos como este eram apenas “autorizadores”
daquilo que o Executivo poderia fazer, sem a necessidade de um expresso diploma
legal, ou seja, dispensava a produção da lei para se colocar em prática a
construção de uma escola técnica:
"Reconheço que a presente
proposta é válida apenas no sentido de despertar a atenção das autoridades do
Executivo para a matéria. Mas, juridicamente, ela é inaceitável".
Enquanto se discutia a criação da escola
técnica de Esperança, também correu no município à boca miúda que faltou
vontade política dos nossos governantes locais em abraçar tal causa. Com efeito,
para tal implementação havia a necessidade de uma parceria da prefeitura, que
poderia doar o terreno para este projeto.
Nesse movimento de forças, a adesão dos políticos
locais é crucial para qualquer empreendimento, de maneira que, sem este
preceito, qualquer projeto de lei está fadado ao fracasso. Todavia, devemos
reconhecer o esforço do Deputado Evaldo Gonçalves que pretendia a criação
daquela Escola Agrícola, tanto que apresentou o Projeto junto ao Plenário da
Câmara.
Não sei, entanto, até que ponto esta crença é
verdadeira, mas no caso de Esperança tal escola nunca saiu do papel. Talvez não
estivesse nos destinos do nosso “Lyrio Verde”, ou quiçá seríamos bem mais
desenvolvidas. Hoje observamos os inúmeros carros que seguem para Campina com
os nossos patrícios, ávidos por conhecimento. São ónibus estudantis, em número
de seis, vans escolares e carros particulares; cursinhos, cursos e graduações são
perseguidas pelos esperancenses, que tem vencido a cada semestre, conquistando
um espaço de trabalho.
Rau
Ferreira
Referências:
- LEI, Projeto de. Propositura do Deputado Federal Evaldo
Gonçalves, tombado sob nº 4.721. Plenário da Câmara dos Deputados. Apresentação
em 08 de março. Brasília/DF: 1990.
- NACIONAL, Diário do Congresso. Ano XLV, Nº 29. Seção I.
Edição de 17 de abril. Brasília/DF: 1990.
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