Pular para o conteúdo principal

O Romance de Esthelyta

Esperança também é marcada por suas trágicas paixões. Ainda ecoam por essas ruas os cantares de Esthelyta, evocando o seu amado. Quando moça, perdeu a virgindade por acreditar numa falsa promessa. O casamento prometido nunca aconteceu, vangloriando-se o rapaz da sua conquista. Ela era a jovem mais bonita da cidade, de uma família tradicionalista.
A mãe foi o tabernáculo sagrado daquela confissão, mas não demorou muito até que o pai ficasse sabendo de sua aventura pela boca miúda de alguns fofoqueiros. Interna-la em um convento seria uma opção, se o pai não fechasse os ouvidos aos conselhos da esposa, espancando e colocando a menina para fora de casa.
Esthelyta então foi morar na capital, instalando-se em casa de uma parente que acolheu a pobre moça. A sua beleza encantava os homens da capital, chamando a atenção de um poderoso político. O cruel destino jogou-a em suas mãos, passando a residir em um apartamento alugado onde recebia o seu querido provedor. Vivia daquilo que ele lhe ofertara, sem precisar trabalhar.
Veio então a “Revolução de 30”, onde muitos perderam a vida, inclusive aquele seu amante. Despejada do seu alojamento e sem poder se manter, abraçou a inevitável vida em um cabaré da cidade. Os anos não lhe foram gratos, e com o passar do tempo já não era mais procurada pelo seu prazer.
Voltando a terra natal, foi recebida por Nana Besouro que possuía uma casa na antiga manichula. Uma nova oportunidade se lhe abriu, pois ainda lhe restava certo vigor e formosura que atraiam os homens.
Todavia, Esperança lhe causava uma grande dor, pois sendo ela uma “dama da noite”, não podia rever os parentes que desprezavam a sua horrível sina. Deprimida, passou a beber cada vez mais e com a idade avançada entregou-se aquele vício.
Eurico Brandão – revisitando suas memórias – em comentário a nossa publicação, escreve que quando Esthelyta bebia dava um show: “Todos corriam para escutá-laa. Cantava com uma voz linda. Morava na antiga rua da Lama numa humilde casa de taipa. Filha de negra se destacava por sua elegância, altura, pele morena clara e lindos olhos verdes. Isso na década de 50. Sua música preferida era 'Farrapo Humano'. Falavam exatamente isso naquela época: fez sucesso num cabaré da capital e era disputada pelos homens mais ricos que o frequentava”.
Antes de sua morte – dizem – vagava pelas ruas da cidade, embriagada e lembrando de seu amor, cantando um velho hino de autoria de Osvaldo Santiago e Eduardo Souto:
João Pessoa! João Pessoa!
Bravo filho do sertão
Toda pátria espera um dia
A tua ressureição!

João Pessoa! João Pessoa!
O teu vulto varonil
vive ainda, vive ainda
No coração do Brasil!

Essa história tem sido repetida por gerações, por pessoas que conheceram Esthelyta. Há quem lhe aponte o tronco familiar, que não ousamos mencionar para não cometer algum impropério. É certo que não encontramos outras fontes sobre esses fatos, podendo até mesmo ser considerada uma lenda urbana. Contudo, muitos afirmam a sua existência e por isso não poderia deixar de publicar neste blog esse relato que permeia a antiga Banabuyé.



Rau Ferreira

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Pedra do Caboclo Bravo

Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “ Pedra ou Furna do Caboclo ” que guarda resquícios de uma civilização extinta. A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E n o seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada. A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros. A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. A s várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos pr

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele

O Mastodonte de Esperança

  Leon Clerot – em sua obra “30 Anos na Paraíba” – nos dá notícia de um mastodonte encontrado na Lagoa de Pedra, zona rural de Esperança (PB). Narra o historiador paraibano que em todo o Nordeste existem depressões nos grandes lajeados que afloram nos terrenos, conhecidas pelo nome de “tanques”, muitas vezes obstruídos pelo material aluvionar. Estes são utilizados para o abastecimento d’água na região aplacada pelas secas, servindo de reservatório para a população local. Não raras as vezes, quando se executa a limpeza, nos explica Clerot, aparecem “ restos fossilizados dos vertebrados gigantes da fauna do pleistoceno que povoou, abundante, a região do Nordeste e, aliás, todo o Brasil ”. Esqueletos de espécimes extintas foram encontradas em vários municípios, soterrados nessas condições, dentre os quais se destaca o de Esperança. A desobstrução dos tanques, necessária para a sobrevivência do rurícola, por vezes provocava a destruição do fóssil, como anota o professor Clerot: “ esf

Anselmo Costa

O Pod.: Ir.: Anselmo Costa é filho do ilustre desportista José Ramalho da Costa e d. Maria da Guia Costa. Casado com a Sra. Meire Lúcia de Faria Costa, tem três filhos (Rodolfo, Renê e Rainer) e dois netos gêmeos (Guilherme e Gustavo). Nasceu em Esperança no dia 08 de Fevereiro de 1950 e se dedicou ao ramo de Clínica Odontológica em Brasília/DF, onde reside desde 1976. Na maçonaria, teve sua iniciação junto a ARLS Mutirão Nº 11 – GLMDF - em 13 de dezembro de 1986, sendo elevado em 9 de outubro do ano seguinte e exaltado em 17 de junho de 1988. Sua instalação ocorreu em 19 de maio de 2000, tendo exercido o cargo de V.'. M.'. daquela oficina por duas vezes, no período de 2000/2001 e 2009/2011. É membro do S.C.G.33 do R.E.A.A. DA M.R.F.B,.desde 1993, e da Academia Paraibana de Letras Maçônicas, tendo atuado como Juiz do Conselho de Justiça do GLMDF (2002/2005) Idealizou e fundou o Capítulo Mutirão Social Nº 775 da Ordem DeMolay.Or.'. do Guará-DF e Associação Brasil

Versos da feira

Há algum tempo escrevi sobre os “Gritos da feira”, que podem ser acessadas no link a seguir ( https://historiaesperancense.blogspot.com/2017/10/gritos-da-feira.html ) e que diz respeito aqueles sons que frequentemente escutamos aos sábados. Hoje me deparei com os versos produzidos pelos feirantes, que igualmente me chamou a atenção por sua beleza e criatividade. Ávidos por venderem seus produtos, os comerciantes fazem de um tudo para chamar a tenção dos fregueses. Assim, coletei alguns destes versos que fazem o cancioneiro popular, neste sábado pós-carnaval (09/03) e início de Quaresma: Chega, chega... Bolacha “Suíça” é uma delícia! Ela é boa demais, Não engorda e satisfaz. ....................................................... Olha a verdura, freguesa. É só um real... Boa, enxuta e novinha; Na feira não tem igual. ....................................................... Boldo, cravo, sena... Matruz e alfazema!! ........................................