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Discurso de Posse na ALCG

Ailton Eliziário, Josemir Camilo, Rau Ferreira, Bruno Gaudêncio e Evaldo Nóbrega


 “Grandeza desse todo que se sabe/ ser o mistério de uma Academia
Silvino Olavo



Ilustríssimo Senhor Presidente da Academia de Letras de Campina Grande – ALCG, Professor Phd Josemir Camilo de Melo, ilustríssima vice-presidente Mabel Amorim e ilustre secretário Bruno Gaudêncio; Poeta Lau Siqueira, Secretário Estadual de Cultura; Venerável Mestre Antônio Monteiro Costa Filho, da Loja Maçônica “Dogival Costa” Nº 04 do Oriente de Esperança/PB, minha mãe Glória Ferreira, minha esposa Carmem Lúcia e meus filhos Hauane, Heloíse e Helder, aqui presentes; parentes e autoridades, minhas senhoras e meus senhores.

Devo intercalar, neste meu discurso, uma frase de Silvino Olavo, que sintetiza cada um de seus momentos.
Inicio, então, com o “Meu interesse”.


Meu interesse

Na alma do homem só devia ter lugar para duas coisas: o sonho e o amor
Silvino Olavo

O meu interesse em torno da vida do poeta surgiu por um acaso. Certo dia, na saída do Colégio quando passava em frente à Praça da Cultura, na minha doce Esperança, dei um susto num colega de classe e este me perguntou se havia algum parentesco meu com Silvino Olavo a ponto de justificar aquele rompante.
Respondi que desconhecia por completo essa personalidade e ele me assinalou o sobrenome “Costa” que herdei do meu avô paterno como ponto de intercessão.
À noite fui para a biblioteca, e deparei-me com dois universitários (Roberto Cardoso e Marinaldo Francisco) que pesquisavam a vida do esperancense ilustre para a publicação, em um único volume, de seus dois primeiros livros de poesia. Até então sabia-se muito pouco da grandeza daquele que foi considerado o “Príncipe da Poesia”.
O suposto parentesco eu nunca descobri, apesar da insistência da poetisa Graça Meira, que ouvira nos anos 60, na casa de sua genitora, relatos de uma linhagem por parte de minha bisavó paterna com a família de Silvino Olavo.
Dona Hilda Batista – de saudosa memória – certa feita me disse que o Município de Esperança era formado a partir de cinco famílias, então não é difícil que haja algum laço nos unindo, ainda que por afinidade.
Toquei a minha vida. Nesse meio tempo, meu pai faleceu, vim estudar no Redentorista aqui em Campina Grande e quando terminei essa etapa ingressei no judiciário, aprovado em primeiro lugar, para a classe dos Oficiais de Justiça na região, prometendo a mim mesmo que passaria apenas um ano, pois o meu sonho era cursar engenharia elétrica. Ledo engano, já que o destino sempre me encaminhou para as ciências jurídicas.
As imagens que me vem à memória, são de meu pai, na Câmara Municipal, datilografando leis e decretos, e me explicando o conteúdo daquelas peças, para me dizer que meu avô foi Juiz de Paz da povoação.
Em casa, revirei papeis antigos, fotos e documentos; e descobri que a história da minha família se entrelaçava com a do próprio município.
Anos mais tarde, movido por essa ânsia memorialista, construí um site na internet (História Esperancense) para divulgar o potencial desta terra. Para a minha surpresa, ressurge a figura de Silvino Olavo, como um dos responsáveis pela sua emancipação.
Passei a admirar o poeta, cuja trágica vida se confunde com a minha própria existência, órfão de pai ainda criança, encetado numa pobreza e sem muita perspectiva de vencer na vida.
Apenas a fé foi minha companheira de lutas e batalhas, em que me sagrei vencedor. Tudo o que me empenhei meu Deus, alcancei êxito e, cedo ou tarde, realizei não apenas os meus sonhos, mas aqueles dos meus pais cristãos.
O site já ultrapassava as quatro casas decimais de visualizações, quando se iniciaram os frutos deste trabalho.
Nas eleições de 2010 me foi concedido cinco dias de folga, tempo suficiente para escrever a biografia desse poeta. Naquele ano, recebi uma pequena herança e o dinheiro foi todo destinado a publicação do livro “Silvino Olavo”.
Até hoje não sei por que cargas d´água fiz essa escolha ou se fui escolhido para realizar essa obra. O fato é que nunca mais parei de esmiuçar a sua carreira e desde então tenho feito grandes descobertas.

Algumas considerações

“ - Cantando assim sem que me atenda/ a multidão despercebida
Silvino Olavo

É preciso tecer alguns comentários sobre o patrono da Cadeira que devo ocupar: Dr. Silvino Olavo da Costa.
Poeta, jornalista, escritor, advogado, promotor de justiça, orador e político... Silvino Olavo era uma “inteligência multiforme[1]”.
Nasceu na Banabuyé de 1897, filho de Manoel Joaquim Cândido e Josefa Martins Costa – fora o primogênito de vinte e um irmãos.
Batizou-se na Capela de Nossa Senhora do Bom Conselho, no povoado de Esperança; e frequentou a escola do Professor Joviniano Sobreira, onde também aprendeu música.
Ainda moço conheceu uma jovem da família Cambeba, por quem se apaixonou. O pai queria que ele fosse fazendeiro e comerciante; a mãe proibiu aquele amor, vaticinando a sina: “Antes quero ver você doido na corrente, do que casado com Severina”.
Contrariado, foge para a Capital parahybana e vai se refugiar na casa de sua tia Henriqueta Maribondo; matricula-se no Colégio Pio X onde, por três vezes consecutivas, recebe a medalha de honra ao mérito por seu desempenho estudantil.
Concluído os estudos secundários, presta exame vestibular e vai cursar Direito na capital da República.
No Rio de Janeiro, se hospeda na pensão do casal Zuch, na rua da Carioca; trabalha nos Correios e atua como revisor de jornais para ajudar na mesada que o pai lhe enviava mensalmente. Participa de algumas publicações locais e colabora para a revista da faculdade.
Silvino foi o orador de seu bacharelado. O seu discurso “Socialização e Estética do Direito” é editado e vertido para a língua inglesa. Nessa mesma época publica “Cysnes”, seu primeiro livro de poesias.
Retorna à Paraíba, é nomeado 1º Promotor Público da Capital e se torna membro do Conselho Penitenciário. Pouco depois inicia um levante para emancipação de sua Vila e, por ocasião da inauguração do sistema de luz, faz o importante pronunciamento: “Esperança - Lyrio Verde da Borborema – terra de juventude e de fé”.
Por esse tempo vem à lume “Sombra Iluminada”, o seu segundo livro de poesias; e Cordialidade, um estudo literário. Além de ser aprovado, por concurso público, para o cargo de Fiscal do Imposto Federal.
Tendo contribuído para a eleição de João Pessoa é nomeado seu chefe de gabinete; e quando este, rompendo a hegemonia política do “Café com Leite”, decide se lançar vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas, Silvino se torna o seu maior cabo eleitoral, tornando-se o primeiro a usar a expressão “Nego” na imprensa nacional, declarando-lhe as razões em artigo de jornal.
Fundador do “Grupo dos Novos” com Amarílio de Albuquerque, Eudes Barros, Américo Falcão e  Peryllo D'Oliveira, realiza saraus nos quais participa Anayde Beiriz.
A jovem professora que ganhara um concurso de beleza mantinha um romance com o maior opositor de João Pessoa.
De repente, o poeta se viu envolvido num turbilhão de acontecimentos cujas consequências todos nós sabemos.
João Dantas, numa clara alusão ao governador e ao seu ajudante, veicula em Pernambuco o texto: “Às voltas com um doido”.
Na carta do bacharel sertanista, há um trecho que diz “MEU PALHAÇO”. Coincidência ou não, este é o título da célebre poesia de SOL publicada em seu primeiro livro, que nos diz:

Meu coração é um mísero acrobata
um palhaço sarcástico de arena:
gargalha sempre, de feição serena,
contrafazendo a mágoa que o maltrata.

Enquanto em riso a multidão desata,
às piruetas deste clown  em cena,
ninguém descobre, na aparência amena,
a tragédia recôndita que o mata.

Mas eu me vingo desse pouco siso,
ao paradoxo do meu próprio riso;
porque a tragédia deste riso insano,

 

que me remorde e que ninguém ausculta

é irmã gêmea da tragédia oculta

que existe em todo coração humano.



Após a morte do governador, no Hotel Glória do Recife, Silvino é internado com uma crise nervosa na Colônia “Juliano Moreira”. Entra e saí algumas vezes da instituição, mas é definitivamente interditado.
Foram anos de ostracismo, até que o seu cunhado Waldemar lhe resgata para o convívio familiar na Fazenda “Bela Vista”.
Silvino Olavo faleceu em 29 de outubro de 1969.

Fatos curiosos

Trata-se de Alguém, que ao meio dia,/ Águas vivas queimaram...
Silvino Olavo

Silvino Olavo é o maior representante do Simbolismo na Parahyba, tendo se destacado ainda como confrade da Tertúlia Acadêmica Pernambucana e da Academia de Letras e Ciências do Rio de Janeiro.
Foi dirigente da Embaixada Parahybana de Futebol, por ocasião do Campeonato Brasileiro disputado nos anos 20 e Presidente da Delegação Paraibana de Imprensa no decênio seguinte.
Redator-chefe d’O Jornal, periódico paraibano dos anos 30, dirigido por José Gaudêncio; produziu para quase uma centena de revistas nacionais.
Foi o primeiro a ler “A Bagaceira” de José Américo de Almeida, levando-a até João Suassuna que, no gozo de sua amizade, autorizou a publicação na imprensa oficial.
Também foi o primeiro a louvar o grande poeta Augusto dos Anjos, em artigo publicado n’A União sob o título “O gênio parahybano”, quando muitos lhe desprezavam, rotulando de esquisitice aquela poesia do “Eu”.
Na plêiade de poetas amigos, e de amigos escritores destacaram-se: Murilo Araújo, Andrade Muricy, Austro-Costa, Perillo D’Oliveira, Orris Barbosa, Virgínia Vitorino, Alzira Tacques, Théo Filho, Eudes Barros, Hyldeth Fávila, Carlos Dias Fernandes, Analice Caldas, Anayde Beiriz, Mário de Andrade e Raul de Góes.
Nos ensaios sobre a sua produção literária, sobressaem: Climério da Fonseca, Carlos Dias Fernandes, Samuel Duarte, José Américo de Almeida, José Lins do Rego, Adelino Magalhães, Agripino Grieco, Rocha Pombo, Haroldo Daltro, Malta Tahan, Nestor Victor, o argentino Emílio de Ibiarra, Osório Duque de Estrada, Hermes Fontes, Gemy Cândido, Magna Celi, Simone Vieira Batista, Alex Giuseppe Valentim e Roberto César Meira.
Obra poética

o verso é para  mim um ânfora santa/ em que só devo por a minha emoção mais pura”.
Silvino Olavo

O legado de Silvino Olavo é sua vastíssima obra literária. Muitos se debruçaram sobre seus escritos, para desvendar-lhe os segredos.

“Cysnes” foi impresso nas oficinas Empresa Brasil Editora. Esse volume tem 170 páginas e gravuras de Angelus. O livro todo é melancólico.

Em “Sombra Iluminada” há um espiritualismo de renúncia e sensualismo. É todo ele dedicado à João Suassuna, a quem chama de “eminente e generoso amigo”. Possui o volume 98 páginas, com capa de Cornélio Pena, num claro exemplo de Art-noueau. A figura aterrorizante do personagem parece se confundir com o título da obra, reflexo de uma alma amargurada e combalida pela doença.

“Badiva” reúne alguns poemas até então inéditos. Esse livro foi lançado em 1997, por ocasião do Centenário de Nascimento do poeta. É prefaciado por Amaury Vasconcelos, ex-presidente desta Casa, com comentários do Professor Matusalém Souza. Tem 119 páginas e foi impresso nas oficinas gráficas da UFPB.

“Cordialidade, estudos literários – 1ª Série – Nova York”, comenta obras literárias que chegaram as suas mãos, cujos textos, em sua maioria, me foi possível recompor.

É o próprio autor que anuncia, em seu último livro, a sair as seguintes obras: “Homens de Comando” (Sociologia); “Flora Macerada – Poemas em prosa”; Santos de Casa (Estudos literários) e “Cordialidade” (2ª parte).

A despeito de “Flora Macerada”, ensaia o autor uma escrita moderna, arrojada e diferente de tudo que vinha sendo feito.
Em seu discurso – sem preocupações de sintaxe –, manifesta uma linguagem denotativa-conotativa, para falar da amada, aquela cuja voz assemelha-se a “um órgão, a morrer na distância”, em cujos olhos “velados de luzes pensativas e pupilas sedosas, brilhavam duas pérolas pálidas”.
São os extremos do amante, que descreve a sua musa como uma deusa de Antenas: deslumbrante, porém rígida; posta em um pedestal, indiferente e intocável, dando-lhe vida no mundo da imaginação poética.

Destaco, ainda, o manuscrito de “Alfa de Centauro”, que ainda aguarda publicação. Esse material, escrito em seus lampejos, organizei em seis partes, respeitadas as suas fases. Havendo interesse, e permissão dos familiares de Silvino Olavo, ainda hei de editar mais essa obra para o cenário poético da Paraíba.

Gemy Cândido, crítico literário e seu conterrâneo, escreve[2] que a sua poesia é de amargura, pessimismo e sombria inquietação. A sua poética pode ser comparada a Cruz e Souza.
E acrescenta Alves Pedrosa: “Não é que que ele seja um poeta triste, apenas sabe ser sincero e deixa bem expressiva a sua vida, amenizando a dor com uma alegria que o acompanha sempre e que também é manifestada em seus versos[3]”.
Carlos Chiacchio o chamava de “contemplativo sentimental[4]”, enquanto José Jóffily ressaltava a sua afinidade poética com Augusto dos Anjos[5].
Quem não conhece a sua obra, dificilmente imaginaria que frases como "silêncio lúgubre das lousas", o "cadáver do amor que tu mataste" ou a "lividez da morte" seriam vis usos do “Cysnes”.
Além de simbolista, identificamos nos seus poemas traços parnasianos e, muito além, caracteres modernistas que lembram o estilo de Manoel Bandeira (Rosa da Minha Vida, Deslumbramento, Noite de São João e Noturno Tropical são alguns exemplos).
Esta última vertente, podemos identificar em muito de seus pseudônimos, a exemplo de “João da Retreta”.
Na página intitulada “Musa Fútil” da Revista Era Nova[6], encontramos um pouco dessa síntese poética:

Ah! Só ela não passa... As outras passam rindo;
Hilda Netto, Dulce Aragão, Laudicéa,
Lourdes Borges, Nevinha Oliveira – Phrinéia...
Ivete Stukert, Hilda Seixas... Povo lindo!
Branca Siqueira, Odete Gaudêncio, Flaviana Oris,
Bulhões, Renato Azevedo, Juvêncio Lyra, Humberto Paote,
o maestro Bayard, Ida Luna, Peryllo ô, ô, ô que zuada!
Silêncio! Anayde Beiriz!!! Puxa que falta de ar! Analice, Nautília, Elísia, Onélia Lins...
Paraíba - Cidade dos jardins.
Quanta gente sem juízo!
Se isto é inferno ninguém neste inferno se salva.
As vezes penso que isto aqui é um paraíso
E não é bago... Adeus Geny, você já vai?

Neste sentido a crítica do Professor José Mário da Silva Branco, intelectual recém-eleito para esta Academia, me pareceu bem pontual:
“Em Silvino Olavo, sem embargo da presença dos aspectos imagéticos e sonoros que percorrem as camadas materiais dos seus poemas, vê-se a ostensiva predominância de uma lírica que se pretende, fundamentalmente, ser um constante pensar sobre a vida, seus fascínios, mistérios e complexidades.
Leiam os versos de “Postal...”, publicados em seu “Cysnes”, que veio à lume em 1924, pela Brasil Editora:
Tenham-te inveja as rosas do jardim,
para que os homens, invejando a mim,
reputem-me feliz entre os mortais;
e possa então o amor que me incendeia,
travez o incendio da retina alheia,
crescer dentro de mim cada vez mais...

Versos decassilábicos perfeitos, cartografia exata de um poeta que exibia pleno domínio do seu ofício”.

Novas histórias

É isso: outras histórias do "Ismo”.
Silvino Olavo

A partir da biografia do nosso patrono, que publiquei em 2010, surgiram “outras histórias” que me foram passadas pelos seus conterrâneos, cujo livro agora apresento-vos.
A obra é uma síntese de sua vida efusiva nas letras e na política. Assim, vemo-lo participar do Conselho Penitenciário que instituiu o livramento condicional no Estado da Paraíba; e na redação do “Jornal”, órgão dirigido por José Gaudêncio.
Trago os comentários de “Religião” – poema de Eudes Barros – e de “A Voz da Terra”, de Perillo D’Oliveira, seus colegas de redação.
Há ainda um resumo de suas publicações na imprensa pernambucana e carioca, e suas passagens pelo Rio de Janeiro, desde que lá fora em busca de uma carta de advogado, retornando poeta consagrado em 1925.
Ressalto o convívio com grandes artistas, a exemplo de Virgínia Vitorino, Hyldeth Fávila e Anayde Beiriz; e sua recepção a Mario de Andrade na Paraíba, na excursão que ficou conhecida como “O Turista Aprendiz”.
Em diversos momentos, escrevo sob a sua atuação como chefe de gabinete do Presidente João Pessoa.

Meus antecessores

E o que existe é o homem que se sente igual”.
Silvino Olavo

Cumpre-me ainda falar dos meus antecessores: Ivan Sodré e Paulo Galvão.
Ivan Sodré foi o primeiro a ocupar esta Cadeira de nº 35, filho primogênito de Luiz Sodré Filho, conhecido por “Ômega”, nasceu em 09 de dezembro de 1930.
Ex-Secretário da Prefeitura de Campina Grande, na gestão de Enivaldo Ribeiro, e Assessor Jurídico da Bolsa de Mercadorias, convidado que fora pelo Economista e visionário Edvaldo do Ó; atuou no “Jornal da Paraíba” e na segunda fase da “Gazeta do Sertão”, originalmente editado por Irineu Jóffily.
O velho boêmio casou-se por duas vezes. Em primeiras  núpcias com Eucemar César; e após o divórcio, com Maria de Fátima Mendonça. Desses consórcios sobrevieram seis filhos.
Bacharelou-se em Ciências Jurídicas em 22 de dezembro de 1986 e foi orador das turmas concluintes.
A sua produção poética é muito vasta. Em seu legado há pelo menos três livros inéditos: “Serra do Monte”, “Nuvens” e “Páginas do Tempo”.
Paulo Galvão em seu discurso de posse traz detalhes de sua vida, ressaltando a memória invejável do poeta que sabia de cor os discursos de Assis Chateaubriand e recitava para quem quisesse ouvir os versos do amigo Raymundo Asfora.
Faleceu Ivan Sodré em 26 de abril de 1990.
O segundo ocupante desta cadeira - Acadêmico Paulo Gustavo Galvão – era filho de Paulo Acácio Galvão e Maria José; irmão de Norma, Isa e Roberto. O médico campinense, formado nas Minas Gerais e com especialidade em oftalmologia, tinha uma predileção pelas letras nas vertentes científica e literária.
Assim, deu à lume o seu “Elogio dos Olhos” que enaltece esse binômio entre ciência e arte, assim como “O Mar de Mármore” que se contrasta à ausência de luz, numa clara referência a sua profissão.
Talvez seja eu o menor dos três, pois fugi da agitação da vida noturna, e não me sagrei “doutor” em uma profissão.
Mas conquistei com o meu trabalho esse lugar que agora ocupo, essa cadeira que tanto almejei, que o diga o confrade Ailton Eliziário, ou nas palavras do meu tio Ferreirinha, “com mérito e com louvor”.
Alcancei a estrela inalcançável, destruí moinhos e lutei as batalhas invencíveis com a arma do saber.
Palavras finais

E, entre as cinzas dos sonhos que morreram,/ nem pude olhar os olhos choraram
Silvino Olavo

Deixo aqui o resgate ao meu patrono, nesse ciclo vital autofágico, para a reflexão dos ouvintes, a sua "Eucaristia[7] um de seus inéditos poemas, que traduz um pouco da realidade vivenciada no Brasil de hoje, afundado em uma crise moral:

A luta pela vida impõe ao Nordestino
A influência imponderável do solo e do clima
E Ele é o herói de raça que se aclima,
Nos penhascos agrestes, a pleno sol a pino.

Ao apelo da gleba, ao Toque do Sino,
Ei-lo a comungar pela seara opima;
E a eucaristia, fá-lo ser de cima...
Como um símbolo imutável do Destino!

É um sábio. Vemo-lo de tudo estar senhor!
Ao remate de – mal exterior -
Pouco ou nada influir na organização.

Nem de mais, nem de menos – à direita...
E para os aguaças, na Eclética Perfeita
Vejamos quem Ele é na primeira Eleição.

Campina Grande, 17 de novembro de 2017.

Rau Ferreira



[1] Luiz Pinto, in: A influência do Nordeste nas letras brasileiras. Ed. J. Olympio: 1962, p. 142.
[2] História Crítica da Literatura Paraibana. João Pessoa/Pb. A União Editora: 1983.
[3] Rua Nova. Ano II, Nº 56. Rio de Janeiro/RJ: 1926.
[4] Carlos Chiacchio: 'Homens & obras': itinerário de dezoito anos de rodapés semanais em A Tarde, Vol. 5, Coleção Cabrália, Vol. 2, Publicações da Academia de Letras da Bahia, Dulce Mascarenhas, Ed. Fundação Cultural do Estado da Bahia: 1979.
[5] MAURÍCIO, João de Deus. A vida dramática de Silvino Olavo. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992. Prefácio de José Jóffily.
[6] Era Nova, Revista. Edição de 1º de maio. Parahyba: 1925.
[7] Revista da Esperança, Ano I – Nº 03, Jun/Agosto 1997: p. 38.

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